sábado, 9 de outubro de 2010

Me Diga Num Domingo

Muitas coisas são irreversíveis, principalmente os sentimentos.

Quando duas coisas acontecem ao mesmo tempo elas ficam para sempre grudadas pela cola das sensações. Até hoje nunca vi um removedor pra esse tipo de cola. Foi assim que aconteceu com a primeira vez que tive certeza que abraços têm tamanhos e encaixes perfeitos e que descobri que beijos não são contratos.

Nunca antes fiquei num abraço como aquele, com a sensação de que era um paletó feito sobre medida para mim pelo melhor alfaiate do mundo. Todos aqueles sentimentos misturados sob o véu da minha ingenuidade fizeram com que os beijos fossem verdadeiros tratados, que querem me levar até onde eu, de algum modo, sei que irei chegar, mas não pelo caminho que acho melhor.

Memórias, aprendizados, formadas pelo ato quase banal de duas coisas acontecerem ao mesmo tempo.

O que tiver de me dizer, me diga num domingo, como na música, num domingo do mais típico possível.

http://www.youtube.com/watch?v=2BXLQT91KjY

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Porque gosto do frio


Gosto do frio porque ele une as pessoas, seja com campanhas do agasalho, seja com um andar de braços dados na rua que liga o nada a lugar nenhum.

Gosto do frio porque ele desacelera um pouco o nosso ritmo frenético de vida. Faz com que fiquemos um pouco mais parados, mais encolhidos, mais reflexivos e, talvez, mais íntimos com nós mesmos.

Gosto muito dos filmes não assistidos, agarrados, embaixo do cobertor de orelha de cabelos vermelhos e toque de fogo, principalmente quando os filmes têm partes 1, 2 e 3, para poder não assistir todos eles num mesmo fim de semana.

Gosto de ver aquela fumacinha que saí das bocas das pessoas. Literalmente ver a respiração no ar do mundo, sentir que faço parte do mundo e que o mundo faz parte de mim. Saber que, no fundo, também sou algum tipo de sentimentos misturados.

Gosto de olhar o céu amanhecendo e se pondo. Reparar nos tons de azul, nos tons de cinza, de vermelho, com muito mais cores do que a minha velha caixa de lápis de 36 cores consegue imitar.

Gosto bastante de todos os chocolates quentes, os vinhos, as sopas, inclusive de fazer qualquer uma dessas coisas. Ficar perto do forno quente, acender uma lareira e, acho que a única vez no ano, ver que vale a pena ter comprado aquele kit pra fazer fondue.

Gosto das roupas que as pessoas vestem no frio. Aquelas várias camadas de tecidos diversos que no final das contas só me provam duas coisas. Que não existe calor melhor que o humano e que as mulheres apaixonadas sempre se vestem pensando em serem despidas.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Pelo menos até passar

- Mas eu realmente achei que dessa vez seria diferente. Juro.

- Toda vez você fala isso e toda vez nós temos essa mesma conversa. – ele realmente tinha razão. As estatísticas mostravam isso.

Talvez fosse a décima vez que me apoiava naquele ombro amigo. Amigo que já estava cansado de escutar aquele papo de “dessa-vez-é-sério-mesmo”. Não que o assunto relacionamento amoroso seja difícil só pra mim, só que pra mim parece toda vez fico como naquela estória da lesma em cima da faca, qualquer movimento errado e era tragédia na certa.

- Deixa ver se entendi. – continuou ele ainda tentando parecer interessado – Ela disse que não podia ficar junto de ti porque gostava muito de tudo quando estavam juntos e tinha certeza de que iria acabar se machucando. Foi isso mesmo?!

- Dá pra acreditar nisso?! – quase não terminei de engolir a minha bebida e dei aquela gorgolejada antes de falar – Disse que seria melhor assim senão nos apaixonaríamos, ficaríamos muito bem por um tempo e depois sairíamos magoados, como sempre acontece. Gostaria de saber onde está esse conjunto de regras que as mulheres sabem de cor?

- Talvez esteja aí mesmo. Dentro do coração delas, por isso que nunca sabemos porque dessa regras, dessas visões, ou seja lá como cada um chama.

- Não sei, cara. Não sei mesmo. Mas acho que se uma mulher se entrega pra você a ponto de passar um fim de semana inteiro deixando mordidas pelo seu corpo, ela devia ser sua pelo menos até aquelas marcas passarem. – Dei uma última golada na minha encorpada bebida – Pelo menos até passar ...

sexta-feira, 12 de março de 2010

O que o roubo do meu note me fez pensar

Vida louca, louca vida. Ela é completamente imprevisível. Nunca realmente levei a sério que o número de variáveis que posso controlar é muito menor que o número que eu acho que controlo, mesmo sabendo disso a bastante tempo.

Acho que todos nós negamos a possibilidade de algo realmente ruim acontecer conosco, até acontecer. E mesmo depois de algum tempo que a vida nos mostra que ela tem vida, nos acabamos, de novo, achando que nada acontecerá conosco.
O que realmente muda é que com o tempo “ama-durecemos”, literalmente endurecemos com amor, porque aprendemos que cair pode realmente machucar.

Fico pasmo até onde a capacidade humana, para o bem e para o mal, vai. Parece que algo ser bastante nunca é o suficiente, sempre queremos mais, mais e muito mais.
Fico pasmo como algumas pessoas pensam em simplesmente jogar fora tudo aquilo que não parece adequado naquele momento, mesmo que já tenha sido um ótimo motivo, uma coisa de alegrar o rosto. Isso vale pra pessoas, sentimentos, relacionamentos, promessas, planos.
Pra essas pessoas, jogar fora é melhor que consertar. Acho que esse é um dos motivos que nos trouxeram até onde estamos.

Como podemos viver o presente, a felicidade do agora, sem considerar o futuro? Não sei a resposta, mas prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha decisão tomada sobre tudo, até sobre o que não tenho controle.

Se pudesse bancar o psicólogo de alguém falaria: durma só quando realmente estiver realmente cansado, ria de tudo aquilo que não desmanchar os sonhos de alguém e aproveite muito tempo o tempo que pode dedicar a outras pessoas.
Ta certo, eu falo muito isso, mas o inferno são os outros, mas como naquele filme com a Nicole Kidman, nos somos os outros.

Só espero que a conta disso tudo saia barato e que seja possível pagar a vista. Então me ame duas vezes essa noite, porque eu posso ir e nunca mais voltar.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Da próxima vez não sorria pra mim

- Pago muito bem pra saber o que você está pensando agora.

- Não adianta. Eu mesma já tentei pagar um psicólogo, mas não adiantou. E olha que foi caro! – ela disse enquanto batia uma das mãos no bolso.

Fiquei um pouco em silêncio, tentando enxergar o que ela enxergava. Mas ela olhava para o infinito, mesmo que infinito acabasse ali, dois metros acima, no teto do quarto.

- Fico intrigado. Se tiro os olhos de você por alguns segundos, quando olho de novo tenho a impressão que você está ausente, tenho até a sensação que vou ver aquele ícone laranja do MSN em você.

- Gatão, preciso falar uma coisa pra você. – ela ficou em silêncio por alguns segundos. Eu realmente odeio esse tipo de pausas dramáticas. – Não sei dizer isso de outro jeito, então vou dizer de uma vez. Você está APAIXONADO por mim! – com um sorriso tão grande nos lábios que quase mordeu as orelhas.

- Nossa! – respondi verdadeiramente surpreso, achei que ela queria dizer que ia embora. – Muito obrigado por me falar. Parece que sou o último a saber. Aliás, como você ficou sabendo disso antes de mim?

- Não precisei de nenhum treinamento no FBI pra descobrir. É fácil. Quando você começa a se interessar pelo que a outra pessoa pensa, é paixão.

- Assim?! Facinho desse jeito?!

- As-sim! – respondeu ela dando ênfase nas sílabas. – Se você estivesse tentando ver o que eu faço, o que eu escuto, até poderia ter alguma outra desculpa, mas você quer saber o que penso pra ver se estou pensando em você, como você está pensando em mim.

Tentei fazer uma cara de não-digo-que-sim-nem-digo-que-não. Quase perguntei “E, por acaaaaaso, você está pensando em mim?”, mas achei melhor não perguntar, ela já tinha me deixado com duas coisas pra pensar e essas coisas levariam muito tempo na minha mente.
Uma delas é que ela realmente pensa que estou apaixonado.
A outra é que não sei se ela está certa.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ataque de Oportunidade

Adorava dormir na casa da Mônica e não só pelo motivo que leva um homem e uma mulher a passarem uma noite juntos. Química boa, perto do meu trabalho, com garagem, ela era ótima cozinheira, atenciosa, café na cama, beijinho de despedida.
Mas algo me chamava ainda mais à atenção.

Esse algo dividia o AP com a Mônica, tinha perto de um metro e sessenta, olhos negros, quase tão negros quanto o cabelo chanel, que dava aquele toque de Cleópatra em cima da pele bronzeadinha com medidas de um violão. Quase uma escultura grega.
Atendia pelo nome de Claudia.

A Claudia era discreta. Sempre muito simpática, mas discreta. Nunca puxava assunto demais, não batia na porta do outro quarto, não demorava no banheiro, jantava antes ou depois de nós. Mesmo quase não aparecendo, ela não saía da minha mente.
Talvez isso tenha esfriado um pouco as coisas com a Mônica. Talvez fosse o prazo de validade dos relacionamentos sem amor batendo a porta. Talvez eu só seja um completo palhaço que estava ficando cansado daquele picadeiro. Só dava pra ter certeza de uma coisa.
Eu queria a Claudia.

Sempre ouvi falar que esse tipo de troca é impossível, quase como tentar trocar de irmãs só que ainda mais difícil. Dizem que muitas irmãs fazem essas trocas de pirraça. Deve ser por influência da Ruth e da Raquel daquela novela antiga.
Seria difícil aparecer na vida da Claudia de outro jeito. Tinha que ser um ataque interno e eu tinha um plano.

Começaria propondo um ménage-a-trois para a Mônica. Conheço bem ela, isso é o tipo de coisa que ela nunca faria. Depois de ser totalmente execrado pela Mônica, ela iria comentar o completo absurdo com a Claudia que a apoiaria na minha condenação de heresia em terceiro grau, cumprindo a sua função segundo o “Manual Dasamiga”.
Só que no fundo a Claudia ficaria intrigada por estar inclusa no meu sonho erótico e, com um pouco de sorte, talvez ela ficasse um tanto lisonjeada. Aí era só ligar pra ela com uma desculpa qualquer - “Esqueci uma coisa aí no apartamento, mas não queria falar com a Mônica”.
O plano era meio maluco, mas eu sou mais maluco que o plano.
Precisava tentar.

Falas ensaiadas. Coragem a postos. Marquei com a Mônica. Com o meu coração batendo no ritmo da música do Missão Impossível, falei da proposta com aquele ar de safado, do pior tipo de cafajeste que pode existir.

Deu tudo errado. De nada adiantou meu plano infalível.
Ela aceitou e a Claudia também.
Me contentei com um ménage.
E eu que achava que conhecia a Mônica.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O agora é pra sempre

Foi num dia assim, de um sol assim. Domingo. Calor. Muito calor. Aquela sensação de que existe um sol pra cada um e que muita gente ainda estava deixando os seus sóis para os outros.
Mas aconteceu algo mais luminoso que todos esses sóis.

Quando você apareceu tive aquela visão. Os raios de sol passando entrecortados pelas altas árvores daquele parque. O seu reflexo esverdeado pelo lago. O seu cabelo estava de um vermelho tão vivo que pareciam fios de um sangue tão limpo e tão puro que curariam a maldição de um vampiro que os apenas encostasse.

Quando seus olhos encontraram com os meus e vi você caminhando na minha direção, tudo ficou em slow motion. Consegui perceber cada um dos seus músculos do rosto, movendo um após o outro, sincronizadamente, na mais harmoniosa combinação de expressões.
A combinação desse sorriso com os teus olhos de Dragão, atentos, astutos, claros e nítidos, apesar de castanhos e profundos, deu-me a certeza que estava derretido, quase escorrendo pelos vãos do banco de madeira, onde cairia na grama e alimentaria o chão pode onde você passaria.
Que honra teria sido pra mim, cuidar do caminho por onde passas.

O barulho dos seus passos ficou certo no meu ouvido. O vento trouxe aquele cheiro que não era do seu perfume, mas seu, da sua pele, da sua alma. Eu nunca confundiria aquele cheiro. O seu cheiro. Senti minhas bochechas ficando quase tão vermelhas quanto o seu cabelo.
Fechei os olhos por uns instantes, como se pudesse guardar aquela imagem, aquela sensação. Senti que os seus passos pararam, então abri os olhos bem na hora que você abaixava em minha direção.

Senti sua mão quente no meu rosto e ouvi você dizer baixinho no meu ouvido “Estou aqui. E dessa vez é pra ficar. Agora é pra sempre”.
Nesse instante eu me senti um Deus e entendi todos os mistérios da vida, porque tive certeza, valeu a pena o universo inteiro ter sido criado só pelo som da sua voz no meu ouvido.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Uma história que poderia ter sido, mas não foi

- Deixa eu adivinhar, é aquela sua “amiga” de novo? – disse me ela ao ouvir o telefone vibrar no criado mudo, fazendo o sinal de aspas com as mãos.

Peguei o celular porque sabia que se não pegasse teríamos aquela discussão de novo. Pelo menos a esperança que não fosse quem ela disse que fosse poderia mudar o rumo das próximas horas, mas só pela minha cara ela sabia que tinha acertado de novo.
E eu sabia o que viria em retorno.

- Você ainda tem coragem de buscar o telefone, mesmo sabendo que era ela.

- Eu não tinha certeza que era ela, mesmo porque não faz diferença pra mim. E eu sabia que se não atendesse você falaria que estou escondendo algo de você. Escondendo algo na Teoria da Conspiração que você acha que existe. – falei com a calma sendo ainda uma constante em meu ser, mas sabendo que não seria por muito tempo.

- Mas porque motivo ela te ligaria às duas da manhã do domingo? Só pra saber se você está bem, como fez na última vez?! – desabafou ela, com aquela ironia de canto de boca que só ela sabe fazer pra me provocar. Mas tive que admitir, o dia e o horário jogavam contra eu.

- Olha bem no fundo dos meus olhos! – falei enquanto puxava o rosto dela junto ao meu, encostando os narizes e sentindo aquela respiração quente e ofegante que vinha dela. – Quem está refletida neles agora, ela ou você? Nós não precisaríamos estar discutindo isso.

- Não vem com essa pra cima de mim, Don Juan. Eu com certeza apareço nos seus olhos, mas quem está presente por trás deles?

- Don Juan?! – repeti indignado. - Você ainda tem dúvidas de que é você quem está nos meus pensamentos? Como você pode pensar nisso e ainda insinuar que sou um conquistador barato depois do jeito como nos amamos agora há pouco. Os anjos estão com inveja do fizemos aqui. E quando digo aqui, não estou falando da cama, mas daqui. – apontando com força o indicador no peito enquanto repetia. – Daqui!

O silêncio se fez presente por alguns segundos. Às vezes essas pausas dramáticas me cansam. Gostaria de resolver isso logo, aquela conversa não precisava existir. O vento frio que veio da janela me lembrou que Julho era mesmo o mês mais frio do ano e que eu só havia esquecido disso porque as noites juntos debaixo do cobertor me valiam dois sóis de temperatura.

- Você sempre fala dos pensamentos, mas nunca dos sentimentos, do que você sente ... – ela falou com a voz já entrecortada pelo choro, mas eu nem consegui deixar aquela frase acabar. A paciência já não era mais uma constante em mim.

- Pára! Chega! Não quero mais falar sobre isso. Nem precisávamos ter começado isso e eu não quero prolongar mais essa briga idiota. – juntei um cobertor amassando como uma bolinha de papel feita com duas mãos e fui pro sofá da sala sem olhar pra trás.

Era a primeira vez que aquilo acontecia entre nós. Nunca achei que dormir no sofá fosse uma possibilidade, mas vi que o que realmente não era possível era ficar ali e dormir ao lado de alguém enquanto as coisas não estão bem.
Julho mais uma vez apareceu na forma daquele vento frio e úmido, mexendo o meu cabelo, enquanto fechava completamente a janela.
Deitei e fechei os olhos pensando que não resolvia nada ficar ali na sala. Talvez eu dormisse, talvez não. A certeza é que o problema não iria embora só porque eu fui, mas não queria mais aquela conversa. Talvez amanhã os ânimos estivessem melhores e as palavras novamente se alinhariam e pudéssemos nos entender de novo. Mesmo esse pensamento não me consolou.
Dei um suspiro profundo, enchendo todo o pulmão de ar e soltando pela boca de uma só vez, largando os ombros como um monte de tijolos sobre aquele sofá que parecia mesmo feito de alvenaria. Quando abri os olhos quase pulei do sofá.

- Que susto! – disse enquanto olhava pra ela de pé na minha frente.

Aquele baby doll branco que mostrava as espáduas brancas, bem abaixo daquele cabelo ruivo bem vivo, com aquela franjinha caíndo suavemente por cima dos seus cílios foi uma visão forte como água do mar em meus olhos.

- Desculpa, por favor! Não queria te assustar. É a última coisa que eu quero agora. – disse ela sem mexer nada além da boca. – Vai mais pra trás.

- Como assim?! No sofá?!

- É. Vai mais pra trás. – vi um sorriso contido naquele rosto alvo.

- Pra quê? – perguntei enquanto sentia as costas juntando com o sofá e me ajeitava de lado.

Sem falar nada. Ela levantou o meu cobertor, entrou debaixo dele, levantou o meu braço, deitou de frente pra mim, passou meu braço por cima dela, puxou o cobertor algumas vezes, porque foi difícil ajeitar aquele cobertor de solteiro em cima de nós dois e com o rosto bem perto do meu disse baixinho.

- Não me interessa o que aconteça, se o meu homem vai dormir no sofá, a mulher dele vai dormir com ele.

E foi aí que eu vi que estava completamente apaixonado por uma mulher que tinha ciúmes até das ligações não atendidas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

De repente a felicidade pode voltar na segunda

Segunda, cinco e meia da tarde, me peguei abatido por aquele sentimento de que o feriadão se foi. Segundas-feiras normais já são um pouco tristes, mas as que segundas de volta dos feriadões são muitos mais. Todas aquelas micro-felicidades que só um fim de semana prolongado permite vão ficando distantes. Os filmes assistidos agarrados, as visitas pra Tia mega cozinheira, os jogos com os amigos quase sem horário, nem pra começar, nem pra acabar, os passeios, os longos telefonemas, todas as coisas que deveríamos ter feito quando tivesse tempo em casa e acabamos não fazendo ... foi aí que lembrei! O guarda roupa!

Sabem como é, ano novo, hora de trocar algumas coisas, com todas aquelas promessas que esse ano será diferente. Troquei o guarda roupa, mas não joguei o velho fora. Não dá pra vender ou doar, ele nem para em pé ... vou ter que dar um jeito nisso.
Algo começou a riscar no meu cérebro, um fósforo de esperança, literalmente, porque hoje descobri que o fósforo não está no palito, mas na lixa que usamos pra acender o palito. Me senti traído por mais essa demonstração que minhas professoras do primário me enganaram muito mais do eu achei que poderiam ... mas eu divago.
Aquele fósforo se transformou realmente na luz no fim do túnel e não era o trem! A segundona começa a se transformar. Ainda é a mesma segunda, mas agora sob nova direção e com um pouco de gloss nos lábios.

Cinco e meia. Ainda dá pra comprar umas carnes. Não dá tempo de chamar todo mundo. Será que se ligar pro Rafa ele avisa mais alguém?! Será que alguém vai topar isso em plena segunda? Sério que você vai mesmo, Rafa?! Levar cerveja?! As carnes eu compro! O Junior vai, também?! Até o Oráculo vai?! 8 horas, fecho lacrado!

E nos encontramos às 9 horas, sei que marcamos às 8, mas ... em plena segunda-feira, cinco amigos e eu, pra fazer um churrasco com o guarda roupa. E quem disse que a madeira do bendito guarda roupa pega fogo? Aliás, é um compensado dos mais furecas. E quando finalmente pega fogo, a carne não fica com cheiro e gosto de plástico de garrafa pet? “E lá vamos nós”, no melhor estilo da bruxa do Pica Pau, comprar carvão às 11 da noite.

Não sei se foi a segunda, se foi a cerveja, as músicas ao violão, os vídeos, o churrasco a meia-noite, o guarda roupa que não foi queimado, as conversas, as piadas, os jogos de dublagem, os vizinhos reclamando do barulho ... só que sei que acabei a segunda sentindo que felicidade por vir de qualquer lugar, a qualquer hora, até mesmo de uma segunda, que terminou na terça.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Porque eu não gosto de restaurantes por quilo

Já perceberam que tudo que acontece tem comida e bebida? Se estamos felizes, que tal um churrasco? Se estamos tristes, que tal um monte de chocolate? Se temos uma comemoração, jantar fora. Se acabamos a faculdade, festança pra celebrar a passagem.
É por tudo isso que eu evito restaurantes por quilo.

Tá, acho que não ficou claro. Não gosto desses restaurantes porque eles simplesmente cumprem uma necessidade fisiológica, mas não acrescentam nada realmente válido nas nossas vidas, na maioria das vezes só adicionam salitre.Sentar num restaurante só pra encher a barriga é pouco pra minha existência.Numa refeição de verdade, a comida é a segunda coisa mais importante. Segunda porque a experiência de sentar a mesa é o primeiro lugar absoluto.

Gosto mesmo é de conhecer um restaurante, nos seus mais íntimos detalhes, no atendimento, na decoração, no cardápio, no tempero. Gosto de experimentar a comida e saber que algum sentimento está ali, nem que seja o meu, de apreciar ela! [Apreciá-la não quero!]
Gosto de levar as pessoas que gosto nesses restaurantes, com horário apenas para entrar, para que a comida não seja o único motivo, mas a desculpa pra tudo aquilo que ocorre ao redor da mesa. As estórias, as risadas, os desabafos, as desculpas, os pedidos, as negações e o silêncio aconchegante de pessoas que falam pelos olhos.

Tenho uma certa aversão por aquela cena da fila pra pesar o prato porque essa é mais uma das demonstrações que o nosso mundo fast não nos deixa lembrar de ser feliz, ocupando todo o nosso tempo, porque se você está perdendo tempo com besteiras, ficará pra trás do mundo, dos outros e, talvez, do mundo dos outros que não é o seu.

Que tal uma prova? Você já tentou ficar um pouco mais nesse momento único que é o presente? Faça isso por alguns segundos. Deixe todas as outras coisas de lado. Olhe para o seu corpo, ele está tenso ou relaxado? A testa está tensa? Os lábios? O sorriso, porque fica escondido tanto tempo? E os ombros, solte eles, deixe eles caírem, desmoronarem. Faça isso só por 1 minuto e sinta a diferença.

Se presenteie com isso, em 3 doses diárias, de manhã, a tarde e a noite, mas não pese isso em nenhum tipo de balança, nem do bem do mal, porque vale muito, mas MUITO, mais que 18 reais o quilo.