segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A diferença que faz a diferença

Acho que foi Monteiro Lobato que disse “Um país é feito de homens e livros”. Lobato, como acho que por livros vocês quis dizer conhecimento, ponto pra você, só faltou definir do que os homens são feitos, já que não consegui falar contigo, por motivos óbvios, vou tentar fazer essa parte. Na minha humilde e sincera opinião, homens são feitos de livros, refeições e viagens.

Livros por causa do saber. Pode parecer meio clichê dizer isso, mas quem diz que sabe tudo não sabe de nada. Falando em clichês, eu acredito muito em muitos deles, nesses ditados antigos também, tem que ter um bom motivo pra eles existirem a tanto tempo. Falando especialmente dos livros, até hoje não encontrei nada que possa ser mais mágico, claro que temos comparações, a Internet permite que nos comuniquemos das mais inusitadas maneiras, mas tudo que ela faz é trocar informações, como os livros já faziam desde sei-lá-quando.

Refeições porque elas não servem só pra encher a barriga. Elas refletem muito mais do que a comida em si. Refletem os temperos, a disponibilidade, a vontade, o carinho, a dedicação, os caminhos, as épocas e elas ainda unem as pessoas. Umas das cenas mais bonitas que podem existir é uma família, que nem precisa ser exatamente de sangue ou de pais e filhos, sentada à mesa, apreciando da comida, da conversa, das experiências, da simpatia, dos sorrisos, do calor e da intensidade da vida. Reparem bem, quase tudo que fazemos envolve comidas, um aniversário, um casamento, um batizado, uma “matada de saudade” de dois corações distantes ou outra comemoração qualquer. As mesas também são objetos mágicos, tenho certeza.

E as viagens completam tudo isso. Como? Porque as viagens fazem a diferença, no sentido mais amplo da palavra. Comprovei isso na prática várias vezes na vida, mas a última delas foi, talvez, mas um talvez com alto teor de probabilidade, a mais intensa delas.

Estive em Minas Gerais visitando uma amiga. E entre a melhor das Lúcidas, paulistanos e paulistanas que acham que entendem de animais, pequenas-grandes pessoas, adocicados cheiros de esperança, corajosos pulos da pedra da superação, balões mágicos dentro de um Celtinha, irmãos metralha do bem e uma cachoeira que parecia cortada na faca, aconteceu algo ainda mais inusitado.

Umas das amigas, na maior e melhor boa vontade, fez pão de queijo, afinal, era Minas Gerais, ir a Minas e não comer um pão de queijo é como ir a Roma e não ver o Papa. O único detalhe é que ela esqueceu de colocar sal no pão de queijo ... que coisa, não?! Que tal colocar um pouco de manteiga ... só tem manteiga sem sal?! Num credito!
“Sabem ... fiz uma farrofa que ficou meio salgada ... podíamos misturar tudo, uai!”, disse a cozinheira. Quem me conhece sabe o que eu digo nessas horas .... Tô pronto! Pasmem! Santa idéia da cozinheira esquecida, mas muito talentosa ... pão de queijo com farofa é bão demais da conta.

De todas as coisas maravilhosas, justo essa ficou tilintando na minha mente toda a viagem de volta. A imagem daquele pão de queijo amarelinho, cortado no meio, a lá pão frances, transbordando pelas beiradas a farofa cheia de fiapinhos de carne seca mostrou que podemos encontrar comida e livros, impressos, visuais ou em áudio, em qualquer lugar, mas o que dá valor pra tudo isso é a diferença.
Se o sal não tive faltado no pão de queijo, não teríamos colocado a farofa nele, que não teria causado as diversas piadas, os comentários, as decisões e tudo mais que fez de 2 dias, dias inesquecíveis. Pão de queijo poderíamos comer qualquer um, até em Sampa mesmo, mas não teríamos a experiência da farofa, cachoeiras existem em muitas lugares, mas nenhuma delas tem a mistura de paulistanos, mineiros e catarinenses, não com aqueles ingredientes, não com aquele sabor.

Mineiros, um pedaço de mim ficou por aí, se alguém achar, por favor, me ligue, porque vou visitá-lo. Já não quero esse pedaço de volta porque agora tenho um pedaço de Minas em mim, ele até me deixou com um tantinho “di sutaque”, que insiste em não ir embora. Que tal fazermos uma troca, Minas? Você fica com esse pedaço do Felipe e eu fico com esse pedaço de Minas aqui comigo, porque só de pensar em tirar ele daqui dói demais.

Obrigado, pela Diferença, Deus meu! Muito obrigado!

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O melhor dos iguais

E estávamos, o Japa e eu, andando pela Paulista nesse fim de semana ... pra ser bem sincero e exato, fomos naquela galeria que vende produtos eletrônicos “La garantia soy yo”, aliás, “La garantia és watchatcha”, por causa dos Chinas, tanto é que o “Aifone” que o Japa comprou já deu pau. Me passou pela cabeça fazer uma piadinha com Japoneses e paus, mas vou só deixar a dica.

Andando por ali é nítido pra qualquer um que observe um cadinho, estamos nos tornando nórdicos, ou pelo menos tentando. É incrível o tanto de loiras de cabelo liso, quase escorrido, que circulam por aí. Todas elas magras, bem magras, magras do tipo quanto mais magras melhor, aquele cabelo “queimado” de loiro, brincos de argola, de tamanho suficiente pra servir de brincadeira nas barracas de festas juninas. Pronto! Esse é o atual estereótipo de mulher bonita.

Bem na frente da filial paulistana do Paraguai tem um café, onde passamos rapidamente. Só em uma mesa estavam 4 Barbie Girls, tomando açaí.
Enquanto o Japa escolhia o seu novo cel, fiquei pensando, porque será que seguimos tanto o que outros fazem, falam, vestem, comem, pensam e olham se somos únicos? Será que não temos personalidade o suficiente pra viver as nossas vidas? Ou vontade? Nem consegui terminar esse pensamento, o Japa já me chamou pra irmos a outro box ver se conseguíamos um preço mais baixo.

Quando começamos a discutir preço com a Chinesa, ou Coreana, é que eu percebi, ainda bem que procurávamos um telefone no estilo “Aifone”, porque não teríamos muitas opções. A maçazinha está infestada em todas as lojas. Aquele lugar todo é um grande pomar de maças digitais tocadoras de mp3. Me senti amuado por mais essa demonstração de vida em sociedade, como se todas as maças tocassem a nona de Beethoven ao mesmo tempo, mostrando quem manda de verdade ali.

Saí pensando nas maças, nas Barbie Girls e nos cabelos loiros quando, atravessando a rua, passei por alguns Emos, saindo do Mc Donald’s e comentando se o novo Orkut vai ser melhor que o Facebook. Deus meu! É muita padronização pra mim!
Não que eu seja contra encontrar pessoas que gostem das mesmas coisas que você, muito pelo contrário, essa sensação de identidade conforta. Quer coisa que dê mais identidade do que ir num jogo de futebol e ouvirmos 30, 40, 50, 60 mil pessoas gritarem a mesma coisa que a gente.

Acontece que estamos ficando esmagados por toda essa padronização. Aquilo de deveria fazer com que sentimos mais próximos um dos outros acaba, muitas vezes, nos afastando de quem nós deveríamos ser mais próximos, de nós mesmos. O conceito de identidade está perdido nesse mundo do melhor dos iguais, porque ter identidade não é ser idêntico aos outros, mas se identificar com você.