segunda-feira, 24 de março de 2014

Pra acompanhar um café

Sabe aquelas noites onde tudo parece dar certo num bom jantar a dois?! Os olhares acontecem, as risadas praticamente explodem da boca, a química parece daquelas, rola aquele assunto sério também, lógico, quando a gente se sente a vontade tende a se abrir um pouco mais ... mas o beijo não aconteceu.

Além de não entender nada, fiquei pensando o quanto que o beijo representa. Beijar 7 pessoas é como não beijar ninguém. É uma simples troca de fluídos que nem sempre é saudável e não leva a nada, um beijo sem destino, sem dono. Não vale um daqueles bem desejados, que se espera e lamenta quando não vem.

Conheço casais que já não se beijam mesmo. Tô falando daqueles molhados e demorados, carregados de sentimento ... mas eles transam. Que força misteriosa é essa que faz um beijo muitas vezes mais íntimo que o próprio sexo?!

Não consegui terminar o pensamento porque o café que pedi no dia seguinte do jantar chegou, enquanto olhava pra uma foto no celular: 
  • E aí, amigo. E pra acompanhar o café?
  •  Juntei as palavras por 2 segundos e falei apontando pro celular – Eu preferia que fosse ela, mas enquanto ela não vem me dá um pão de queijo mesmo.

sábado, 24 de dezembro de 2011

O presente dos presentes


Eu adoro o Natal e quem me conhece sabe disso. Adoro toda a decoração, todo o sentimento espalhado pelo ar, mesmo que sempre venha alguém e fale que é só uma data comercial nem costumo ligar. Já entendi que, na maioria das vezes, essas pessoas estão ocupadas demais pensando nelas mesmas pra conseguir entrar no clima do Natal.


Descobri isso pela correria de fim ano. Eu adoro pensar em presentes pra cada. Me colocar na pele de cada um e imaginar o que seria um bom presente. Daí pra frente às filas, o transito (cada vez pior!), as chuvas torrenciais e até os flanelinhas (que eu não gosto nem um pouco!) ficam pequenos. Mas eu vejo que pra muita gente essa oportunidade de se ver no outro é exaustiva. Tão estressante que não vemos a hora de terminar isso tudo e poder voltar a pensar só em nós mesmos tranquilamente.


Isso foi só uma evidência dessa dificuldade que temos de pensar nos outros, mas sabe o que mais me irrita? É que nós nunca lembramos dos presentes que ganhamos. Pensem bem, o que você ganhou de Natal no ano passado? Eu me lembro vagamente de uma ou outra coisa, mas me lembro bem que as pessoas que me presentearam lembraram de mim por um instante especial durante o ano, assim como eu lembrei delas, e trocamos o presente momento através de um presente pequeno, simbólico, tão simbólico quanto um bom velhinho vestido de vermelho que pensa nas crianças o ano todo para entregar o tão merecido presente.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Mulher Cachaça - Parte 2

Essa estória tem uma parte 1 aqui

Sabe o efeito daquela cartela de paracetamol que você tomou? Sumiu. A sua dor de cabeça voltou com força total e pra ficar. Algumas baterias de escolas de samba teriam inveja do ritmo que sua cabeça latejava.
O ser humano é uma bosta de vez em quando porque mesmo sabendo que você poderia pegar uma gonorreia você não consegue parar de pensar que gonorreia não pede pensão.

Calma, calma. Você repete falando sozinho enquanto tenta lembrar onde ficou aquele cianureto guardado para uma situação de apocalipse total.
Calma, calma. Você continua repetindo como um mantra. Isso vai passar. Amanhã é outro dia … espera aí. Outro dia. Dia seguinte.
Realmente falar sozinho é mais ouvir do que falar.

Funciona mais ou menos como um Engov, só que é para evitar aquele grande acontecimento que vem depois de noites impensadas, só que é para evitar que você acabe num tribunal se explicando diante do juiz … pensando bem, Engov e pílula do dia seguinte têm muito mais semelhanças do você jamais havia pensado.
A solução você já tem, agora é preciso por ela em prática.

O plano é o seguinte. Ligar pra ela, ver onde ela está, comprar a pílula, levar até ela e socar goela abaixo, mas como você não é o Conan nem nenhum tipo de Espartano é melhor pensar em outro plano.
Que tal ligar pra ela, falar que não entendeu bem a mensagem da camisinha estourada e ser bem sincero falando que está preocupado com isso … só você, sempre você, pra achar que sinceridade cola com alguém hoje em dia.
Quer saber. Sem planos. Se você aprendeu algo com o Cebolinha é que nenhum plano é infalível. Vocês são adultos e vão resolver isso como adultos. Com certeza ela também não quer o filho de uma noitada impensada, ainda mais de um adulto como você.

Você liga o telefone no carregador, chama o número da mensagem que recebeu e fala meio abaixado perto do criado mudo. Ela atende no segundo toque.

-Oi, Felipe. Que bom você ter ligado. - Pânico! Ela te chamou pelo nome e você, digamos, não trabalha com nome. Pense rápido porque não dá pra titubear numa hora dessa Artilheiro! Você tá cobrando pênalti que vai trazer a torcida ou o alcoolismo pra perto de você.

-Oi, Lindona. - Lindona é muito cafa, mas pelo menos saiu em tempo! - Não esperava que te ligasse no outro dia? Eu disse que não sou qualquer um.

- Lindona é muito cafa, Fê. - Eu já sabia! - Fala o meu nome com aquele tom de voz rouco que você repetiu tanto no meu ouvindo ontem, fala.

AímeuDeus! AímeuDeus! Você lembra que tem a, e z, e parece que termina com r … pera aí, azar é o que você tem, não o nome dela.
Pensa, pensa, pensa.

- Me dá a primeira letra de dica?

- Tu te fu … tu te fu … tu te fu … - Talvez o telefone não tenha feito esse barulho quando ela desligou na sua cara, mas que fez sentido fez.

A recepção, o sentido, que essa desligada na cara fizeram mais do que definir tudo em uma palavra.
Um homem normalmente pensa que se deu bem com um sexo casual, mas em menos de 24 horas ela já te fodeu duas vezes.

Continua.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Quando foi que viramos adultos?

Um amigo meu terminou de vez com a (ex) namorada e resolveu viver a vida. Interessante esse comentário, não? Como se ele não pudesse viver muito bem do lado dela. Parece que ele não tem mais sono, nem dúvidas, só certezas cristalinas e absolutas.

Sendo bastante sincero, não acho que esse tipo de vida é uma imaturidade. Nós rompemos com a convenção que nos protegia de nós mesmos e dos nossos desejos mais íntimos dos quais, muitas vezes, não nos julgamos merecedores. Entretanto tudo tem um preço e o desse rompimento é a sensação permanente de ambigüidade.

De um lado, todas as possibilidades do mundo, do outro a dificuldade de se fixar em qualquer uma delas. Sonhamos com paixão, romance, intensidade, mas vemos que ansiedade e superficialidade dominam até onde os olhos vêem.

Recebi um email que dizia que a grande diferença entre homens e abacates é que os abacates amadurecem. Claro que recebi de uma mulher e eu ri. Ri porque todos nos somos abacates, mas somente nós é que somos independentes e maduros, os outros estão sempre precisando de mais um tempo.

Acho que viver esse dilema das relações é que significa ser adulto. O que não significa que é fácil nem rápido, mas prefiro assim. É melhor ser adulto com todas as dores do que um gato domesticado vivendo num bem bom que nem é tão bom assim. Assim a vida é mais sincera, sem trair aos grandes princípios do amor, da fraternidade, da vida própria.

O grande segredo disso tudo, em minha opinião, é que temos de dar importância as coisas realmente importantes. Além de soar redundante isso é muito verdade, porque não costumamos nos concentrar nas coisas importantes, mas sim naquelas que fazem o mundo parecer efêmero e sem sentido. Mas eu digo com toda certeza que quando elas coisas realmente importantes estiverem na parte de cima da lista a vida será diferente, afinal, no fundo nós sabemos, o que mantém o gado no pasto é a grama e não a cerca.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Asas por dentro

Ela não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos.

Ela não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. Ela não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa.

Ela não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, esse órgão tão nobre.

Ela não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinho. Ela não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: Ela nem imagina que foi ela quem me ensinou esta alegria.

- E se não parar de doer, o que eu vou fazer? – perguntei pra ela com os olhos baixos.
- Você vai sorrir como se estivesse bem. As pessoas costumam acreditar em falsos sorrisos, como você acreditou em falsas promessas.

É como se Deus não parasse de sussurrar no meu ouvido: não desista, o melhor ainda está por vir.
Fazer o quê? Passáros têm asas por fora, eu tenho asas por dentro.

domingo, 17 de julho de 2011

A mulher cachaça - Parte 1

Já ouvi falar que o pior porre que se tem notícia é de "vinho". Sabe aquela coisa bem doce, cheia de corantes e com nome do liquide cheio de hemáceas do esposo da dona vaca? Aquilo nem vinho é, por isso mesmo deve ser a pior ressaca etílica, porque no que diz respeito a outros inconvenientes ressacantes de uma noitada impensada a mulher cachaça é disparado o primeiro lugar.

São duas e meia de um sábado-pra-domingo qualquer, o Happy Hour já virou Oh Happy Day e você sente, no fundo da sua existência, uma necessidade inexplicável de não voltar pra casa e dormir, afinal, é sábado à noite, ficar em casa é coisa de forever alone e você, que não vai deixar as pessoas pensarem isso da sua pessoa, quer planejar o resto da noite, mesmo sabendo que falar de você mesmo na terceira pessoa é um sinal forte de embriaguez.

Sejamos francos. Você já está naquele barzinho à horas e não bebe só porque nunca fez amigos bebendo leite, você bebe para que as outras pessoas fiquem mais interessantes. E é agora que essa teoria começar a mostrar força.
No fundo do bar aparece, como num passe de mágica, aquela garota que, você sabe, ela sempre esteve ali, mas era a sua vista que não a enxergava. Não que ela fosse feia, mas você ainda não estava apto pra vê lá. Com certeza é alguma variação menor e mais discreta do seu destino recente.
Ela percebe o seu olhar e não desvia por 1 segundo, por 2, por 5 e quando você se deu conta já deu aquele sinal sem nome de quando você levanta e copo e dá leve abaixadinha na cabeça, demonstrando uma estranha disposição de conversar, e isso acontece logo.

Vamos resumir o que acontece nas próximas cenas: bebeu, conversou, bebeu, conversou ao pé do ouvido, bebeu, beijou, bebeu, agarrou, bebeu, falou-que-estava-de-carro-e-dava-carona, terminou a última saideira, conta, rua, caminho-maluco-até-a-casa-dela, amasso no carro.
Durante o amasso no carro rola aquele comentário dela que "homem é tudo igual" e você, sempre você, que tem um fraco por causas perdidas, quer provar que não é um animal insensível e bruto que usa as mulheres, então você poe uma música lenta, permite que ela fale dela, pergunte sobre você, diga o achou dos dois, da e ganha uns beijos no pescoço e passa o seu telefone pra ela. Mais ainda, diz pra ela ligar porque pedir o telefone dela um homem qualquer pediria e ela te diz que se você é um homem especial merece um presente de despedida especial.

Sem ter certeza de como e quando chegou, você acordas na sua cama às duas e meia da tarde, com uma cede de quem ficou 2 dias no deserto e uma dor de cabeça que faz a cartela de paracetamol ser comida tal qual sucrilhos.
O celular pisca vermelho com pouca bateria e duas mensagens de um número esperadamente desconhecido.

A primeira diz que ela adorou a noite, que o seu beijo tem gosto de quero mais e que alguns ginastas olímpicos não conseguem se mexer tanto num banco de trás. Essa mensagem faz o seu ego quase ultrapassar a extratosfera, afinal, mesmo sem se lembrar você cumpriu o seu papel de homem e, além disso, deve ter sentido algum prazer também.
A segunda mensagem fala de como ela gostou da sua reação tranquila e até fofa quando a camisinha estourou.

A recepção, o entendimento dessa mensagem fez com que o seu sistema límbico mandasse uma mensagem complexa, quase alienígena, mas ao mesmo tempo tão simples que a definição de tudo aquilo saiu pela boca em uma palavra.
Fudeu.

Continua

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A melhor coisa que eu nunca tive

Conheci alguns figuras que faziam cada coisa em busca de inspiração. Conheci um escritor novato que gostava de ver sites com animais atropelados, estripados e coisas assim só pra conseguir ficar bem triste e se debulhar em lágrimas textuais.

Um outro dava uma de Beethoven. Jogava água gelada na cabeça enquanto tentava escrever uma boa música para o ser o novo sucesso da sua nova banda. Digo nova porque essa era a terceira em 1 ano e alguns meses. As bandas nunca o inspiravam o suficiente para alcançar o sucesso que ele sempre dizia que merecia.


Semana passada uma amiga me perguntou o que eu fazia para escrever e eu tive que confessar pra ela ... eu escrevo. Simples assim. Não preciso de sinais do além, nem sentimentos profundos, muito menos algum de tóxico inspirador, só preciso estar próximo de quem eu mais sou e, talvez, de quem mais eu quero ser.


Talvez por isso seja simples falar que eu sou um escritor. É isso que eu sinto amor em fazer. Até o meu corpo diz isso! Quando escrevo não me canso rápido, não roo unhas e nem fico pensando em um milhão de coisas que tem de ser feitas, apesar de existirem um milhão de coisas para serem feitas. De alguma maneira é como se estivesse fazendo todas elas, como estou fazendo agora, deslizando pelas linhas suaves de texto recém nascido, que leva um tapinha do médico e chora para o mundo que recebe.


Nunca tive que ser alguém de sucesso para os outros, apesar de as vezes até achar que sim. Só tive mesmo que parar de evitar o inevitável e de não escrever o escrevível.