quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Querido Papai Noel!

Nem me lembro quando foi a última vez que escrevi para ti. Acho que faz uns 15 anos. Antes de começar com os meus pedidos gostaria de te agradecer. Sim, agradecer, pelo simples fato de vocês existir. Por se desdobrar em milhares, quem sabe milhões, por todo o mundo, aparecendo em todos os shoppings, todas as propagandas e em todos os sonhos. Mas um agradecimento eu gostaria de fazer com um sentimento ainda mais especial do que os outros, porque pra mim essa é uma das suas maiores virtudes ... muito obrigado por deixar que as pessoas no geral, mas em especial as crianças, tenham a capacidade de sonhar, porque proporcionando esse pouquinho de sonhos, que o mundo não hesitará em tirar delas, você faz toda a diferença.

Não queria quebrar o ritmo gostoso do agradecimento, mas será que você se importa se eu começar com os pedidos?! [Juro que agradeci antes de coração, não foi pra ganhar mais presentes!]

Neste Natal eu não quero me inundar em presentes, quero apenas que você me dê um laxante pra minha alma. [Mas só pra alma, heim?! Não tente bancar o engraçadinho!]

Que esse laxante tire só as coisas ruins de dentro de mim, que deixe a minha alma límpida, prontinha para um novo futuro. Sei que essa limpeza pode não durar muito. Pouco a pouco os pensamentos ruins voltam mansamente a grudar na alma, como o colesterol ruim gruda nas artérias, mas esse é o poder que você exerce em mim, o poder de renovação.

Não quero dizer que simplesmente porque você aparece todo o meu ódio, a raiva e a intolerância, somem, longe disso, contínuo com todo esse ódio, raiva e intolerância, mas agora com gostinho de frutas vermelhas.

Pensando melhor, acho que o laxante não é um pedido tão bom assim. Como diria o Renato Russo, eu já não sou mais tão criança a ponto de saber tudo, mas sei que você não pode simplesmente levar os sentimentos ruins embora da minha alma, então que tal me dar um temperinhos pra ajudar a digerir todos esses infortúnios?! Você já tem a dica, gosto de frutas vermelhas, mas nada muito doce, por favor.

E, Noel, se não for demais, dá um pouquinho desse temperinho também pra pessoas a minha volta. Tá bom, eu sei, o inferno são os outros! Só que nesse caso, assim como para a Nicole Kidman naquele filme, nós somos os outros! Eu juro que estou tentando fazer a minha parte, e essa semana eu dei um passo importantíssimo pra voltar ao meu “Jardim dos Caminhos que se Bifurcam”, então quebra essa pra mim, vai?!

Como diriam aquelas crianças no programa da Xuxa na época em que eu costumava te escrever com mais freqüência, um beijo pro Papai, pra Mamãe e especialmente pra você meu querido Noel-Esperança-de -Natal!

Feliz Natal!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Porque os homens coçam o saco

Família que janta unida permanece unida, e num dos já tradicionais jantares familiares na casa da minha irmã, as quartas-feiras à noite, o meu pequeno sobrinho, Luis Guilherme, nos encantos dos seus 9 meses, estava jantando o leite materno - que os programas de TV insistem em dizer que vem na temperatura ideal e com todos os nutrientes, isso é, enquanto não inventarem o leite materno light ... aliás, light é coisa do passado, agora tudo é zero .... mas o que realmente importa é que enquanto se esbaldava com o seu Kit Bezerrinho ele começou a acariciar a própria cabeça, o que causou um comentário da minha irmã – que é enfermeira:

-“Olha Fê! Ele faz isso porque ele está aprendendo sobre o seu próprio corpo. Isso é muito importante na idade dele”.

Por um instante olhamos todos para aquela linda demonstração da perfeição da natureza através da auto-gentileza humana, mas imediatamente após o último fonema do comentário da minha irmã, o Luisinho tirou a mão da cabeça e começou a coçar o saco. Isso mesmo, coçar o saco! Por cima da fralda mesmo ele começou a esfregar a mão lá e – posso dizer porque vi – com muita vontade e força. Seguindo princípio da minha irmã, ele era um estudante MUITO aplicado. Nem quero pensar quando ele for mais velho!
Minha mãe, que também estava a mesa, não se conteve:

- “Vê se pode! Desse tamanho ... afinal, por que os homens coçam o saco? Eu acho que isso é falta de higiene. Acho que a maioria dos homens nem enxuga o dito cujo com papel higiênico e nem realmente lava, com sabonete, no banho. O resultado só pode ser isso”!

- “Imagina, mãe! Quer saco mais limpo que o do Guile?! Eu mesma lavo várias vezes por dia”. – Respondeu minha irmã, já emendando a sua teoria. “O que acontece é que o tecido escrotal tem a derme com epiderme e ....”, isso é mais ou menos o que eu lembro da fala dela, cheia dos jargões técnicos, antes de interromper pra deixar a minha teoria.

- “Vocês estão levando pro lado errado, isso não deve ter nada, ou quase nada, a ver com o físico, isso é psicológico. Coçar o saco é um esporte. Alguns homens gostam de escalar montanhas, boa parte deles gosta de futebol, outros de pescar, mas o esporte universal masculino é coçar o saco. Faz parte dos nossos instintos esportivos.”

- “Posso falar por que?” – esse foi o meu cunhado, que surgiu de repente na conversa, apesar de estar na mesa o tempo todo. “Os homens coçam o saco PORQUE O SACO COÇA! Simples!”.

Diante dessa demonstração de sabedoria, ficamos todos nos olhando, meio que concordando, meio que não sabendo o que dizer, mas meu pai, que também estava quieto até então, completou, com o seu característico humor ácido:

- “Eu não sei porque o saco coça ou qualquer coisa assim, o que eu sei é que enquanto eu TENTO assistir o meu futebol vocês tão ENCHENDO o meu saco”!

Já entendi pai, já entendi. Você arrumou sarna pra se coçar, afinal, filho é bom, mas dura muito, não é mesmo?!

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Porque gosto do Natal

Gosto do Natal porque eu tinha de escrever uma cartinha pro Papai Noel falando o presente que eu queria e porque eu merecia ele, presente sem justificativa não vinha!
Gosto de lembrar dos meus tios e meu pai, que revezavam, ano a ano, quem vestiria a roupa do bom velhinho, que de tão usada que estava, a barba falsa mais parecia um papel do que um tecido, mas pra quem imitava um Papai Noel da Coca-Cola que não sabia o que era o verão brasileiro está ótimo. Isso é uma ótima prova que o Papai Noel não é brazuca, porque se ele usasse mesmo essa roupa em pleno Dezembro, ele seria mais magrinho. Garanto!
Gosto de pensar em todas as comidas maravilhosas feitas pela minha mãe, as carnes, os panetones alemães que até hoje eu não sei mesmo se são alemães, e Tia Portu [guesa] que sempre fala “Dá muito trabalho, esse ano eu não faço rabanada pra vocês, seus bandos de Ralagretas!”, mas sempre acaba fazendo, pra alegria geral da família.
Gosto de lembrar de quando encontrávamos os amigos na rua, depois da 1 da manhã, e saíamos andando pelo bairro, num Capão Redondo muito diferente do “Frio e sem sentimento” que o Mano Brown fala, passando de casa em casa, bebendo com todos eles a saúde de suas famílias e juntando cada vez mais amigos, até pararmos em uma esquina e conversarmos sobre tudo e sobre nada, ao mesmo tempo e tudo misturado.
Gosto de pensar no amigo secreto da minha família, que demoramos tanto pra pensar num jeito legal de sacanear o “escolhido”, esperamos pelo momento da zueirinha e depois passa tudo muito rápido e fica distante tão depressa, porque sempre acaba na briga de bolinhas de papel, feitas dos papéis de embrulho dos presentes. Gosto de ver a família toda, das crianças ao patriarca, trocando suaves violências em forma de celuloses voadoras.
Gosto de lembrar da cara dos meus sobrinhos e “agregados” quando me vesti de ajudante de Papai Noel, porque o velhinho tem muitas crianças pra visitar e teve que me pedir uma mãozinha. Foi impressionante o quanto eles pensaram antes de fazer alguma malcriaçãozinha na minha frente durante um bom tempo. Espertos eles, sabiam que eu ia dedurar tudo!
Gosto MUITO de quando as crianças ganham brinquedos que NÃO são educativos ou politicamente corretos. Os brinquedos, pra mim, tem que ter o simples propósito de brincar.
E mesmo que digam que o Natal significa uma outra coisa que não tem nada a ver com presentes e consumo, não liguem! É através dos presentes e do comércio intenso da sociedade em que vivemos, que conseguimos nos reunir e mostrar, uns aos outros, que ainda temos esperança e capacidade de renascer.

PS: Atendendo a pedidos, e aproveitando o começo das férias \o/, tentarei escrever mais aqui no blog, afinal, o mundo está cheio de estórias!
PPS: Lin, recebi o seu presente! Muito obrigado! =D

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Aniversário de Namoro no Hospital

Não me lembro exatamente da data, com certeza era um dia 21, talvez de Março de 2006, quando eu e a Yuri fizemos, 7 meses de namoro [faz tempo isso!] e ela passou mal. O interessante é o que causou e mal estar nela. Minha mãe nos ofereceu uma novidade, conserva de Marisco [não me perguntem, coisas de Dona Cida]. Cada um de nós comeu um, apenas um marisco, e algumas horas depois estamos no hospital com a Yuri parecendo o Will Smith naquele filme, “Hitch, O Conselheiro Amoroso”, quando ele come frutos-do-mar.

Chegamos no PS, demos entrada na papelada e chegamos a conclusão que o socorro pode até estar pronto, só não está disponível quando você chega lá ... que burocracia é essa que te atrapalha até na hora que você mais precisa de ajuda! Assim que conseguimos resolver todos os entraves burocráticos fomos atendidos por um médico que “recomendou” [como se tivéssemos muita escolha] que a Yuri tomasse um sorinho com antialérgico na veia. Descemos para a enfermaria rumo a tortura agulhenta e é aí que a estória começa de verdade.

A enfermaria estava quase cheia, com aquele ar que só os hospitais têm, meio insosso, tentando ser o mais neutro possível, o que acaba fazendo de lá um lugar único. Quando a Yuri se acomodou numa confortável poltrona, a enfermeira veio com aquele saquinho de soro. Saquinho é bondade, porque vem meio litro de sofrimento naquilo. A enfermeira, não sei porque cargas d’águas, talvez por sono [sim, ela estava com cara de sono], ela não conseguia achar a veia da Yuri, que realmente é muito fina.

Tentou num braço, no outro, de novo no primeiro braço, de novo no outro ... no fim a Yuri estava parecendo uma Tábua de Pirulitos, e nada de achar a veia. Até que pela enorme cara de insatisfação da Yuri [com razão] a enfermeira resolveu chamar outra enfermeira, a chefe, que ao mesmo tempo em que resolveu o problema nos deixou um pouquinho bravos. A enfermeira chefe simplesmente disse “Essa agulha é muita grossa, usa essa!”, foi dito e feito, logo de primeira à agulha pegou e o soro começou a fluir. Vale a pena ressaltar, a agulha usada na Yuri foi uma agulha para bebês, feita de silicone, finíssima.

Inclusive, começou a fluir é força de expressão, porque pelo tamanho da veia da Yuri e pela quantidade de soro que tinha ali, ficamos nada menos que uma hora e quarenta esperando, mas nesse meio tempo aconteceram coisas bem legais, tudo começando pela fome da Yuri.

Logo que ela falou que estava com fome eu me dispus, como namorado prestativo, a ir buscar algo para ela comer, a questão é, onde e o que eu poderia comprar às onze e meia da noite? Nem mais o Jô está funcionando nesse horário.

Sorte que existe o Extra 24 horas. Pelo horário que cheguei lá, não podia esperar que ainda vendesse aqueles sanduíches de metro, o que me deixou opções menos saudáveis ainda. Acabei pegando uns salgadinhos, umas bolachas, suco e fui pro caixa. Naquele bendito corredorzinho que leva até os caixas rápidos, onde o pessoal do mercado monta aquelas prateleiras-armadilha, cheio de coisas de você não precisa que você acaba comprando sem saber bem porque, tinha uma caixa de balas, em formato de abóbora. Muito chamativa e simpática .... sim, eu comprei, mas eu sabia porque estava comprando, queria fazer um agradinho plus pra minha formiga com alergia a Marisco recém descoberta. Paguei tudo e voltei.

A primeira coisa que olhei quando cheguei de volta na enfermaria foi o saco de soro da Yuri, que pra minha surpresa estava quase no mesmo nível de quando saí – e olha que eu devo ter demorado uns 25 minutos pra ir e voltar do mercado. Entreguei o pacote com a comida pra ela, dizendo que tinha uma pequena surpresa dentro. Ainda me lembro como os olhos dela brilharam quando viu a caixa de balas. O resultado da surpresa é que ela praticamente não comeu mais nada, só balas e mais balas. De vez em quando ela misturava a bala com salgadinho dentro da boca, fazendo uma maçaroca que com um forno na temperatura ideal com certeza resultaria em um belo tijolo baiano.

Enquanto ela se esbaldava com a guloseima, percebi que o pessoal das poltronas dos lados começou a olhar com grandes olhos na nossa direção. Alguns pareciam que estavam até salivando, salivando bastante. O que custava pra gente oferecer uma balinha pro pessoal Amigo de PS, o pessoal quando vai ao bar não faz Amigo de Copo?! Com a autorização da Yuri pra mexer nas suas balinhas, sagradas, sai oferecendo balinha pro pessoal do PS. Quase todos aceitaram, e alguns deles comeram como se essa fosse a última refeição deles em vida. Com uma vontade, com o perdão do termo, com um tesão, que foi impressionante. Achei estranho essa vontade enorme, mas fazer o que, num hospital tem gente doente mesmo.

Duas das pessoas que aceitaram as balinhas foi um casalzinho que estava do nosso lado. Muito simpáticos, logo começamos a conversar. Ela tinha passado mal, um pouco antes de ir pra balada, e ele, que descobrimos que era só amigo, ou pelo menos disse isso, foi acompanhá-la. Em seguida descobrimos que eles também já estavam lá há quase duas horas e que tinham feito umas apostinha pra passar o tempo. Ela também estava tomando soro, meio litro, e eles tinham apostado se o soro acabava até a meia-noite. Se ela ganhasse, ele tinha que pagar a balada pra ela no próximo fim-de-semana, se ele ganhasse, caso o soro não acabasse até a meia-noite, ela tinha que limpar a casa dele. Detalhe, ele queria que ela limpasse ainda naquela noite! De verdade! Muito sem noção, nem parecia que ele estava vendo a cor da mulher. E o pior ele ganhou! O soro acabou já passava de meia-noite e dez.

Foi aí que eles chamaram a enfermeira, na esperança de ir embora. Quando ela chegou, pediu para a moça se encaminhar ao médico, dizendo que teria que dar para os outros pacientes uma pequena prioridade, porque eram diabéticos. Sim sim pessoas! Eu distribuí balinhas para os diabéticos do PS! Mas eu não tinha como adivinhar e eles não falaram nada, além de “Posso pegar duas?!”. Pensando bem, acho que eu também não falaria, sabe-se lá quanto tempo eles não comiam um docinho. Fiquei em dúvida se falava pra enfermeira que algum safado, sem-vergonha, pilantra, deu balinhas pro diabéticos e saiu correndo pelo corredor gritando “Biiiisssccccoooiiitttoooo!! Chocollaaaaattteeee!! Carameeeeelllllllooooooo!!”, só que com medo dela me questionar quanto a veracidade dessa informação, fiquei bem quietinho no meu canto e deixei os diabéticos felizes.

Enquanto a moça estava fora, o rapaz nos falou que estava feliz que ela já tinha tomado todo o soro, assim ainda daria tempo pra ele deixá-la em casa e ir pra balada. Sincronizadamente com o término da fala dele, ela apareceu pela porta da enfermaria, com um papel na mão, que posso dizer de forma resumida, significava mais meio litro de soro pra ela. A atitude do rapaz nessa hora foi inesquecível, de uma sapiência, de uma amizade, de uma sinceridade, impagáveis. Ele simplesmente falou “O dobro ou nada! Mas agora eu aposto que vai acabar bem rapidinho!”, o que causou um certo espanto em nós, que ele esclareceu rapidinho, dizendo “PORQUE EU VOU APERTAR ESSE SAQUINHO DE SORO ATÉ SAIR PELOS SEUS OLHOS! DUAS BOMBEADAS E VAMOS EMBORA DAQUI”! Ai ai, o que é amizade.

Pouco depois que a moça voltou pro soro, a Yuri finalmente terminou o dela. Chamamos a enfermeira e nos encaminhamos pro corredor, esperando pra ver o médico. Enquanto esperávamos no corredor com mais algumas pessoas, veio um enfermeiro empurrando um carrinho. Até hoje me lembro dele, branquelo, careca, gordo .... praticamente o Pingüim do Batman, só faltava a bengala.

No meio do corredor, ele olhou pra um dos pacientes, parou o carrinho e praticamente gritou “Franciscão! Que bom ver o você aqui!”. Eu simplesmente não conseguia acreditar no que meus sentidos me mostravam. O enfermeiro ainda continuou, agora abraçando e beijando o “Franciscão”. “Porra cara! Tava com saudades de você! Fiquei preocupado quando soube que você saiu do hospital. Vê se aparece, caramba! Eu fico com saudades! Não some heim!” ... Juro! A Yuri e eu ficamos boquiabertos, totalmente assustados. Eu ainda não conseguia acreditar! Imaginei que era algum tipo de pegadinha e fiquei procurando alguma câmera no corredor, mas estava bem escondida.

Quando passamos no médico ele nos liberou. Despedimos do casalzinho [até essa hora ela estava ganhando, eles tinham apostado de novo até a 1 hora] e quase uma hora da manhã do nosso sétimo aniversário de namoro [quem disse que aniversário precisa ser de ano em ano?!] estávamos voltando pra casa. Não foi nada do que planejamos, mas quando teremos a oportunidade de viver tudo isso de novo?! Na verdade eu sei quando. E aí minha Gata, quer um Marisco em conserva?

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A sabedoria do Seu Antonio

Quem conhece o meu pai, o Seu Antonio, sabe que ele é figura. Baixinho, barrigudinho, sempre com cavanhaque ou bigode e dono de uns olhos azuis que causam inveja em muita gente, principalmente no filho homem dele.

Mas o que na maioria das vezes chama mais atenção é a sua sabedoria, adquirida pela experiência dos anos muito bem vividos, somado ao seu senso de humor ácido - quase corrosivo.

Um dia o Helio estava em casa assistindo alguns vídeos de futebol. Assim que o meu pai chegou próximo o Helio quis logo mostrar o vídeo do Hermano Maradona fazendo o seu aquecimento com bola para uma partida pela Argentina – se não me engano é esse vídeo aqui http://www.youtube.com/watch?v=yZEnNlmry0s.

- E aí Seu Antonio, o Sr viu o que ele faz com a bola?

E o meu pai em sua imensa sabedoria respondeu:

- E você viu o que ele faz com o PÓ?!

Outra vez, quando organizamos uma Festa do Contrário, aquela festa onde homem se veste de mulher e vice-versa, uma amiga fez uma pequena confusão na hora de convidar o sábio Antonio Martins:

- Olá Seu Antonio! O Sr vai à festa do Troca-Troca?

Ele olhou bem nos olhos dela, com aquele sorrisinho de canto de boca e com toda a suavidade respondeu:

- Minha filha ..... eu não tenho mais idade pra isso não!

Fora as risadas, esse último comentário também me dá uma pontinha de curiosidade salpicada com um cadinho preocupação e uma pitadinha de medo .... como assim não tem mais idade pra isso, pai?! Algum dia você teve idade pra isso?!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

3 mancadas, camisinhas e um King Kong na drogaria

Nunca tive vergonha de chegar na farmácia e comprar camisinhas. Com certeza eu teria vergonha de comprar catuaba, viagra ou qualquer outro tipo de remédio que mostrasse que estou com a minha vida sexual pra baixo – literalmente, mas camisinhas são um grande símbolo de virilidade, principalmente quando alguém faz como eu, compra um monte de uma vez, só pra dar a impressão para os atendentes da drogaria que você usa as camisinhas SIM e MUITO – mesmo que isso não seja exatamente verdade. Só que esse dia foi bem diferente.
Entrei na farmácia como sempre faço na hora de comprar camisinhas, de cabeça erguida, peito estufado e andando a passos firmes, como um Golias que morre de medo das fotos das DSTs que viu no colegial, dirigindo minha atenção logo para o balcão, onde normalmente fica o Durex – que é como os Portugueses chamam os preservativos. Dá pra acreditar?! Ainda querem fazer a Reforma Ortográfica dizendo que falamos a mesma língua, enfim ....
Já acho muito ruim as camisinhas ficarem em frente ao balcão. Porque elas têm de ficam logo ali?! A única resposta que me vem é que serve apenas para os balconistas ficarem nos observando a cada escolha! Imagino os comentários entre eles, “Olha lá! Olha lá! Ele ta pegando aquela com sabor de uva? Quer dizer que ele gosta de uma frutinha, heim?!”, “Olha só! Pegou aquela com efeito retardante ..... quer dizer que temos um Ligeirinho aqui minha gente!!”, cada comentário ferindo mais a minha vida sexual-pessoal-imaginada-por-eles e sempre seguida de sonoras risadas imaginárias. Mesmo assim me mantive firme porque o que estava em jogo eram os meus filhinhos, que espero que pelo menos por alguns anos continuem sendo apenas gametinhas no saquinho do papai.
Quando finalmente escolhi qual levaria – mas é claro que não vou falar da minha escolha – e coloquei a mão no pacote, vejo uma outra mão pegando exatamente o mesmo pacote, seguido do comentário “Ahhh, mas esse Felipe é um MENINÃO mesmo!!”. Quando viro o rosto, já meio encabulado, vejo que era um grande amigo, o Zé*, que estava ali. Cumprimento ele com um grande abraço e uma risada meio sem graça. Conversamos alguns segundos efusivamente. E foi só aí que percebi que a balconista olhava para nós com aquela cara de quem está segurando a risada!
Como eu pude ser tão estúpido! Não dava nem pra culpar ninguém! O que explicaria 2 homens juntos, se abraçando e comprando camisinhas da mesma marca na mesma hora!
Cada um pegou um pacote e se seguimos ainda para o caixa, ainda juntos .... como eu pude ser tão estúpido duas vezes seguidas! Como eu me odeio quando faço esses combos de perobices! A balconita ficou me olhando com aquela cara de quem está pensando “Quer dizer então que essa Coca na verdade é Fanta! Ou pior, Fanta Uva!!” e eu pensando em como todas as balconistas são umas malditas! Por fim ela fez a pergunta que quase me fez voar diretamente na sua jugular de balconista-maldita, “Passo tudo junto?!”! Mas que ousadia! Respondi que não rispidamente e ver escrito na cara da pérfida “Nossa! Tá nervosa Santa?!”, só me fez deixar o troco de lado e esperar pelo Zé do lado de fora da farmácia. Não sei como, mas ele ainda teve coragem de pagar com o cartão! Nunca que eu deixaria qualquer chance daquela mulher ou qualquer um lá dentro saber o meu nome! Já basta o King Kong que paguei e, também, um combo de 3 mancadas já é demais!

* Nome trocado para preservar a privacidade do .... Zé, e a minha também.