Segunda, cinco e meia da tarde, me peguei abatido por aquele sentimento de que o feriadão se foi. Segundas-feiras normais já são um pouco tristes, mas as que segundas de volta dos feriadões são muitos mais. Todas aquelas micro-felicidades que só um fim de semana prolongado permite vão ficando distantes. Os filmes assistidos agarrados, as visitas pra Tia mega cozinheira, os jogos com os amigos quase sem horário, nem pra começar, nem pra acabar, os passeios, os longos telefonemas, todas as coisas que deveríamos ter feito quando tivesse tempo em casa e acabamos não fazendo ... foi aí que lembrei! O guarda roupa!
Sabem como é, ano novo, hora de trocar algumas coisas, com todas aquelas promessas que esse ano será diferente. Troquei o guarda roupa, mas não joguei o velho fora. Não dá pra vender ou doar, ele nem para em pé ... vou ter que dar um jeito nisso.
Algo começou a riscar no meu cérebro, um fósforo de esperança, literalmente, porque hoje descobri que o fósforo não está no palito, mas na lixa que usamos pra acender o palito. Me senti traído por mais essa demonstração que minhas professoras do primário me enganaram muito mais do eu achei que poderiam ... mas eu divago.
Aquele fósforo se transformou realmente na luz no fim do túnel e não era o trem! A segundona começa a se transformar. Ainda é a mesma segunda, mas agora sob nova direção e com um pouco de gloss nos lábios.
Cinco e meia. Ainda dá pra comprar umas carnes. Não dá tempo de chamar todo mundo. Será que se ligar pro Rafa ele avisa mais alguém?! Será que alguém vai topar isso em plena segunda? Sério que você vai mesmo, Rafa?! Levar cerveja?! As carnes eu compro! O Junior vai, também?! Até o Oráculo vai?! 8 horas, fecho lacrado!
E nos encontramos às 9 horas, sei que marcamos às 8, mas ... em plena segunda-feira, cinco amigos e eu, pra fazer um churrasco com o guarda roupa. E quem disse que a madeira do bendito guarda roupa pega fogo? Aliás, é um compensado dos mais furecas. E quando finalmente pega fogo, a carne não fica com cheiro e gosto de plástico de garrafa pet? “E lá vamos nós”, no melhor estilo da bruxa do Pica Pau, comprar carvão às 11 da noite.
Não sei se foi a segunda, se foi a cerveja, as músicas ao violão, os vídeos, o churrasco a meia-noite, o guarda roupa que não foi queimado, as conversas, as piadas, os jogos de dublagem, os vizinhos reclamando do barulho ... só que sei que acabei a segunda sentindo que felicidade por vir de qualquer lugar, a qualquer hora, até mesmo de uma segunda, que terminou na terça.