domingo, 31 de janeiro de 2010

Uma história que poderia ter sido, mas não foi

- Deixa eu adivinhar, é aquela sua “amiga” de novo? – disse me ela ao ouvir o telefone vibrar no criado mudo, fazendo o sinal de aspas com as mãos.

Peguei o celular porque sabia que se não pegasse teríamos aquela discussão de novo. Pelo menos a esperança que não fosse quem ela disse que fosse poderia mudar o rumo das próximas horas, mas só pela minha cara ela sabia que tinha acertado de novo.
E eu sabia o que viria em retorno.

- Você ainda tem coragem de buscar o telefone, mesmo sabendo que era ela.

- Eu não tinha certeza que era ela, mesmo porque não faz diferença pra mim. E eu sabia que se não atendesse você falaria que estou escondendo algo de você. Escondendo algo na Teoria da Conspiração que você acha que existe. – falei com a calma sendo ainda uma constante em meu ser, mas sabendo que não seria por muito tempo.

- Mas porque motivo ela te ligaria às duas da manhã do domingo? Só pra saber se você está bem, como fez na última vez?! – desabafou ela, com aquela ironia de canto de boca que só ela sabe fazer pra me provocar. Mas tive que admitir, o dia e o horário jogavam contra eu.

- Olha bem no fundo dos meus olhos! – falei enquanto puxava o rosto dela junto ao meu, encostando os narizes e sentindo aquela respiração quente e ofegante que vinha dela. – Quem está refletida neles agora, ela ou você? Nós não precisaríamos estar discutindo isso.

- Não vem com essa pra cima de mim, Don Juan. Eu com certeza apareço nos seus olhos, mas quem está presente por trás deles?

- Don Juan?! – repeti indignado. - Você ainda tem dúvidas de que é você quem está nos meus pensamentos? Como você pode pensar nisso e ainda insinuar que sou um conquistador barato depois do jeito como nos amamos agora há pouco. Os anjos estão com inveja do fizemos aqui. E quando digo aqui, não estou falando da cama, mas daqui. – apontando com força o indicador no peito enquanto repetia. – Daqui!

O silêncio se fez presente por alguns segundos. Às vezes essas pausas dramáticas me cansam. Gostaria de resolver isso logo, aquela conversa não precisava existir. O vento frio que veio da janela me lembrou que Julho era mesmo o mês mais frio do ano e que eu só havia esquecido disso porque as noites juntos debaixo do cobertor me valiam dois sóis de temperatura.

- Você sempre fala dos pensamentos, mas nunca dos sentimentos, do que você sente ... – ela falou com a voz já entrecortada pelo choro, mas eu nem consegui deixar aquela frase acabar. A paciência já não era mais uma constante em mim.

- Pára! Chega! Não quero mais falar sobre isso. Nem precisávamos ter começado isso e eu não quero prolongar mais essa briga idiota. – juntei um cobertor amassando como uma bolinha de papel feita com duas mãos e fui pro sofá da sala sem olhar pra trás.

Era a primeira vez que aquilo acontecia entre nós. Nunca achei que dormir no sofá fosse uma possibilidade, mas vi que o que realmente não era possível era ficar ali e dormir ao lado de alguém enquanto as coisas não estão bem.
Julho mais uma vez apareceu na forma daquele vento frio e úmido, mexendo o meu cabelo, enquanto fechava completamente a janela.
Deitei e fechei os olhos pensando que não resolvia nada ficar ali na sala. Talvez eu dormisse, talvez não. A certeza é que o problema não iria embora só porque eu fui, mas não queria mais aquela conversa. Talvez amanhã os ânimos estivessem melhores e as palavras novamente se alinhariam e pudéssemos nos entender de novo. Mesmo esse pensamento não me consolou.
Dei um suspiro profundo, enchendo todo o pulmão de ar e soltando pela boca de uma só vez, largando os ombros como um monte de tijolos sobre aquele sofá que parecia mesmo feito de alvenaria. Quando abri os olhos quase pulei do sofá.

- Que susto! – disse enquanto olhava pra ela de pé na minha frente.

Aquele baby doll branco que mostrava as espáduas brancas, bem abaixo daquele cabelo ruivo bem vivo, com aquela franjinha caíndo suavemente por cima dos seus cílios foi uma visão forte como água do mar em meus olhos.

- Desculpa, por favor! Não queria te assustar. É a última coisa que eu quero agora. – disse ela sem mexer nada além da boca. – Vai mais pra trás.

- Como assim?! No sofá?!

- É. Vai mais pra trás. – vi um sorriso contido naquele rosto alvo.

- Pra quê? – perguntei enquanto sentia as costas juntando com o sofá e me ajeitava de lado.

Sem falar nada. Ela levantou o meu cobertor, entrou debaixo dele, levantou o meu braço, deitou de frente pra mim, passou meu braço por cima dela, puxou o cobertor algumas vezes, porque foi difícil ajeitar aquele cobertor de solteiro em cima de nós dois e com o rosto bem perto do meu disse baixinho.

- Não me interessa o que aconteça, se o meu homem vai dormir no sofá, a mulher dele vai dormir com ele.

E foi aí que eu vi que estava completamente apaixonado por uma mulher que tinha ciúmes até das ligações não atendidas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

De repente a felicidade pode voltar na segunda

Segunda, cinco e meia da tarde, me peguei abatido por aquele sentimento de que o feriadão se foi. Segundas-feiras normais já são um pouco tristes, mas as que segundas de volta dos feriadões são muitos mais. Todas aquelas micro-felicidades que só um fim de semana prolongado permite vão ficando distantes. Os filmes assistidos agarrados, as visitas pra Tia mega cozinheira, os jogos com os amigos quase sem horário, nem pra começar, nem pra acabar, os passeios, os longos telefonemas, todas as coisas que deveríamos ter feito quando tivesse tempo em casa e acabamos não fazendo ... foi aí que lembrei! O guarda roupa!

Sabem como é, ano novo, hora de trocar algumas coisas, com todas aquelas promessas que esse ano será diferente. Troquei o guarda roupa, mas não joguei o velho fora. Não dá pra vender ou doar, ele nem para em pé ... vou ter que dar um jeito nisso.
Algo começou a riscar no meu cérebro, um fósforo de esperança, literalmente, porque hoje descobri que o fósforo não está no palito, mas na lixa que usamos pra acender o palito. Me senti traído por mais essa demonstração que minhas professoras do primário me enganaram muito mais do eu achei que poderiam ... mas eu divago.
Aquele fósforo se transformou realmente na luz no fim do túnel e não era o trem! A segundona começa a se transformar. Ainda é a mesma segunda, mas agora sob nova direção e com um pouco de gloss nos lábios.

Cinco e meia. Ainda dá pra comprar umas carnes. Não dá tempo de chamar todo mundo. Será que se ligar pro Rafa ele avisa mais alguém?! Será que alguém vai topar isso em plena segunda? Sério que você vai mesmo, Rafa?! Levar cerveja?! As carnes eu compro! O Junior vai, também?! Até o Oráculo vai?! 8 horas, fecho lacrado!

E nos encontramos às 9 horas, sei que marcamos às 8, mas ... em plena segunda-feira, cinco amigos e eu, pra fazer um churrasco com o guarda roupa. E quem disse que a madeira do bendito guarda roupa pega fogo? Aliás, é um compensado dos mais furecas. E quando finalmente pega fogo, a carne não fica com cheiro e gosto de plástico de garrafa pet? “E lá vamos nós”, no melhor estilo da bruxa do Pica Pau, comprar carvão às 11 da noite.

Não sei se foi a segunda, se foi a cerveja, as músicas ao violão, os vídeos, o churrasco a meia-noite, o guarda roupa que não foi queimado, as conversas, as piadas, os jogos de dublagem, os vizinhos reclamando do barulho ... só que sei que acabei a segunda sentindo que felicidade por vir de qualquer lugar, a qualquer hora, até mesmo de uma segunda, que terminou na terça.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Porque eu não gosto de restaurantes por quilo

Já perceberam que tudo que acontece tem comida e bebida? Se estamos felizes, que tal um churrasco? Se estamos tristes, que tal um monte de chocolate? Se temos uma comemoração, jantar fora. Se acabamos a faculdade, festança pra celebrar a passagem.
É por tudo isso que eu evito restaurantes por quilo.

Tá, acho que não ficou claro. Não gosto desses restaurantes porque eles simplesmente cumprem uma necessidade fisiológica, mas não acrescentam nada realmente válido nas nossas vidas, na maioria das vezes só adicionam salitre.Sentar num restaurante só pra encher a barriga é pouco pra minha existência.Numa refeição de verdade, a comida é a segunda coisa mais importante. Segunda porque a experiência de sentar a mesa é o primeiro lugar absoluto.

Gosto mesmo é de conhecer um restaurante, nos seus mais íntimos detalhes, no atendimento, na decoração, no cardápio, no tempero. Gosto de experimentar a comida e saber que algum sentimento está ali, nem que seja o meu, de apreciar ela! [Apreciá-la não quero!]
Gosto de levar as pessoas que gosto nesses restaurantes, com horário apenas para entrar, para que a comida não seja o único motivo, mas a desculpa pra tudo aquilo que ocorre ao redor da mesa. As estórias, as risadas, os desabafos, as desculpas, os pedidos, as negações e o silêncio aconchegante de pessoas que falam pelos olhos.

Tenho uma certa aversão por aquela cena da fila pra pesar o prato porque essa é mais uma das demonstrações que o nosso mundo fast não nos deixa lembrar de ser feliz, ocupando todo o nosso tempo, porque se você está perdendo tempo com besteiras, ficará pra trás do mundo, dos outros e, talvez, do mundo dos outros que não é o seu.

Que tal uma prova? Você já tentou ficar um pouco mais nesse momento único que é o presente? Faça isso por alguns segundos. Deixe todas as outras coisas de lado. Olhe para o seu corpo, ele está tenso ou relaxado? A testa está tensa? Os lábios? O sorriso, porque fica escondido tanto tempo? E os ombros, solte eles, deixe eles caírem, desmoronarem. Faça isso só por 1 minuto e sinta a diferença.

Se presenteie com isso, em 3 doses diárias, de manhã, a tarde e a noite, mas não pese isso em nenhum tipo de balança, nem do bem do mal, porque vale muito, mas MUITO, mais que 18 reais o quilo.