sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Da próxima vez não sorria pra mim

- Pago muito bem pra saber o que você está pensando agora.

- Não adianta. Eu mesma já tentei pagar um psicólogo, mas não adiantou. E olha que foi caro! – ela disse enquanto batia uma das mãos no bolso.

Fiquei um pouco em silêncio, tentando enxergar o que ela enxergava. Mas ela olhava para o infinito, mesmo que infinito acabasse ali, dois metros acima, no teto do quarto.

- Fico intrigado. Se tiro os olhos de você por alguns segundos, quando olho de novo tenho a impressão que você está ausente, tenho até a sensação que vou ver aquele ícone laranja do MSN em você.

- Gatão, preciso falar uma coisa pra você. – ela ficou em silêncio por alguns segundos. Eu realmente odeio esse tipo de pausas dramáticas. – Não sei dizer isso de outro jeito, então vou dizer de uma vez. Você está APAIXONADO por mim! – com um sorriso tão grande nos lábios que quase mordeu as orelhas.

- Nossa! – respondi verdadeiramente surpreso, achei que ela queria dizer que ia embora. – Muito obrigado por me falar. Parece que sou o último a saber. Aliás, como você ficou sabendo disso antes de mim?

- Não precisei de nenhum treinamento no FBI pra descobrir. É fácil. Quando você começa a se interessar pelo que a outra pessoa pensa, é paixão.

- Assim?! Facinho desse jeito?!

- As-sim! – respondeu ela dando ênfase nas sílabas. – Se você estivesse tentando ver o que eu faço, o que eu escuto, até poderia ter alguma outra desculpa, mas você quer saber o que penso pra ver se estou pensando em você, como você está pensando em mim.

Tentei fazer uma cara de não-digo-que-sim-nem-digo-que-não. Quase perguntei “E, por acaaaaaso, você está pensando em mim?”, mas achei melhor não perguntar, ela já tinha me deixado com duas coisas pra pensar e essas coisas levariam muito tempo na minha mente.
Uma delas é que ela realmente pensa que estou apaixonado.
A outra é que não sei se ela está certa.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Ataque de Oportunidade

Adorava dormir na casa da Mônica e não só pelo motivo que leva um homem e uma mulher a passarem uma noite juntos. Química boa, perto do meu trabalho, com garagem, ela era ótima cozinheira, atenciosa, café na cama, beijinho de despedida.
Mas algo me chamava ainda mais à atenção.

Esse algo dividia o AP com a Mônica, tinha perto de um metro e sessenta, olhos negros, quase tão negros quanto o cabelo chanel, que dava aquele toque de Cleópatra em cima da pele bronzeadinha com medidas de um violão. Quase uma escultura grega.
Atendia pelo nome de Claudia.

A Claudia era discreta. Sempre muito simpática, mas discreta. Nunca puxava assunto demais, não batia na porta do outro quarto, não demorava no banheiro, jantava antes ou depois de nós. Mesmo quase não aparecendo, ela não saía da minha mente.
Talvez isso tenha esfriado um pouco as coisas com a Mônica. Talvez fosse o prazo de validade dos relacionamentos sem amor batendo a porta. Talvez eu só seja um completo palhaço que estava ficando cansado daquele picadeiro. Só dava pra ter certeza de uma coisa.
Eu queria a Claudia.

Sempre ouvi falar que esse tipo de troca é impossível, quase como tentar trocar de irmãs só que ainda mais difícil. Dizem que muitas irmãs fazem essas trocas de pirraça. Deve ser por influência da Ruth e da Raquel daquela novela antiga.
Seria difícil aparecer na vida da Claudia de outro jeito. Tinha que ser um ataque interno e eu tinha um plano.

Começaria propondo um ménage-a-trois para a Mônica. Conheço bem ela, isso é o tipo de coisa que ela nunca faria. Depois de ser totalmente execrado pela Mônica, ela iria comentar o completo absurdo com a Claudia que a apoiaria na minha condenação de heresia em terceiro grau, cumprindo a sua função segundo o “Manual Dasamiga”.
Só que no fundo a Claudia ficaria intrigada por estar inclusa no meu sonho erótico e, com um pouco de sorte, talvez ela ficasse um tanto lisonjeada. Aí era só ligar pra ela com uma desculpa qualquer - “Esqueci uma coisa aí no apartamento, mas não queria falar com a Mônica”.
O plano era meio maluco, mas eu sou mais maluco que o plano.
Precisava tentar.

Falas ensaiadas. Coragem a postos. Marquei com a Mônica. Com o meu coração batendo no ritmo da música do Missão Impossível, falei da proposta com aquele ar de safado, do pior tipo de cafajeste que pode existir.

Deu tudo errado. De nada adiantou meu plano infalível.
Ela aceitou e a Claudia também.
Me contentei com um ménage.
E eu que achava que conhecia a Mônica.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O agora é pra sempre

Foi num dia assim, de um sol assim. Domingo. Calor. Muito calor. Aquela sensação de que existe um sol pra cada um e que muita gente ainda estava deixando os seus sóis para os outros.
Mas aconteceu algo mais luminoso que todos esses sóis.

Quando você apareceu tive aquela visão. Os raios de sol passando entrecortados pelas altas árvores daquele parque. O seu reflexo esverdeado pelo lago. O seu cabelo estava de um vermelho tão vivo que pareciam fios de um sangue tão limpo e tão puro que curariam a maldição de um vampiro que os apenas encostasse.

Quando seus olhos encontraram com os meus e vi você caminhando na minha direção, tudo ficou em slow motion. Consegui perceber cada um dos seus músculos do rosto, movendo um após o outro, sincronizadamente, na mais harmoniosa combinação de expressões.
A combinação desse sorriso com os teus olhos de Dragão, atentos, astutos, claros e nítidos, apesar de castanhos e profundos, deu-me a certeza que estava derretido, quase escorrendo pelos vãos do banco de madeira, onde cairia na grama e alimentaria o chão pode onde você passaria.
Que honra teria sido pra mim, cuidar do caminho por onde passas.

O barulho dos seus passos ficou certo no meu ouvido. O vento trouxe aquele cheiro que não era do seu perfume, mas seu, da sua pele, da sua alma. Eu nunca confundiria aquele cheiro. O seu cheiro. Senti minhas bochechas ficando quase tão vermelhas quanto o seu cabelo.
Fechei os olhos por uns instantes, como se pudesse guardar aquela imagem, aquela sensação. Senti que os seus passos pararam, então abri os olhos bem na hora que você abaixava em minha direção.

Senti sua mão quente no meu rosto e ouvi você dizer baixinho no meu ouvido “Estou aqui. E dessa vez é pra ficar. Agora é pra sempre”.
Nesse instante eu me senti um Deus e entendi todos os mistérios da vida, porque tive certeza, valeu a pena o universo inteiro ter sido criado só pelo som da sua voz no meu ouvido.